quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Todeschini

A Rainha do Fandango é natural da cidade de Bento Gonçalves. E começou a nascer formalmente no dia 28 de abril de 1939, da linha de produção de uma fábrica que recebeu o nome de Todeschini e Cia. Ltda. É claro que isso só aconteceu depois de elas terem passado por uma fase de artesanato caseiro, pelas mãos do mesmo Luis Matheus Todeschini que fundou a empresa.
(Seu Luis teve quatro filhos, mas nenhum deles interessou-se pela fabricação de gaitas).
Em 1947 surgiu a Acordeões Todeschini S/A.
Em 1965 - 17 anos depois da fundação do MTG - a empresa já exportava seus produtos para a Argentina, Chile, Venezuela, Méxio e Estados Unidos. Mas começou a enfrentar uma série crise nas vendas internas.O Brasil havia entrado na era dos instrumentos elétricos e as pesquisas mundiais na indústria eletrônica avançavam em velocidade de linguagem binária sobre a área da música. A estridência do som de guitarras elétricas e tecladeiras eletrônicas conquistava uma geração que, disposta a mudar a própria ordem do universo, precisava de volume suficiente para que sua mensagem fosse ouvida acima de qualquer outro som. Os instrumentos acústicos entraram em baixa no gosto da grande massa de consumidores da música: a juventude. Foi por esta época que a Todeschini, na tentativa de ganhar fôlego, voltou-se para um mercado menos sujeito à ondas, modismos e sazonalidades: o mercado de móveis. O ano era 1968.
Em 1971, a empresa estava em franco desenvolvimento, assim como toda a indústria moveleira que florescia em Bento Gonçalves.
Incêndio na sexta-feira, 13 de agosto"... ocupava uma área própria construída de 14.000 m2. 470 operários produziam em média, mensalmente, 700 acordeões e 3.000 unidades de móveis diversos." Esta a descrição da fábrica feita em matéria na edição número 1 da Revista Gaúcha, que Adelar Bertussi e Adelar Neves publicaram durante os anos 70. O texto descrevia o incêndio que, na sexta-feira, 13 de agosto de 1971, atingiu a Todeschini. O fogo ardeu durante durante dois dias e destruiu completamente as instalações da fábrica.
Mas, já no dia 15 de outubro, a empresa ressurgiu das cinzas, sob a denominação de Todeschini S.A. - Indústria e Comércio, com cerca de 250 acionistas - a maioria deles, os próprios operários da fábrica.
Menos de três anos após aquela sinistra sexta-feira, 13, as novas instalações haviam de novo alcançado 11.000 m2 de área construída e abrigavam 350 operários. Mas a fabricação de móveis havia sido drasticamente aumentada para 8.000 peças mensais, contra uma violenta redução na produção das famosas gaitas: apenas 300 instrumentos/mês.
Boa parte delas saiam de Bento Gonçalves diretamente para completar o abastecimento do mercado europeu de outra marca mundialmente conceituada: Honer.
Honeyde e Adelar Bertussi eram os únicos músicos consultores da linha de produção. Eles passavam com frequência pela fábrica, onde experimentavam as gaitas prontas, conferiam os resultados e sugeriam eventuais modificações. "Os instrumentos eram fabricados de acordo com as orientações dos irmãos Bertussi", testemunha lvo Bondam, uma autoridade no assunto: ele entrou para a Todeschini aos 13 anos de idade e lá trabalhou durante 46 anos.
Para cada instrumento finalizado, eram montadas nada menos do que 3.856 peças - todas elas produzidas dentro da própria fábrica, muitas delas de mínimo tamanho, exigindo rara precisão e pessoal com alta especialização prática. (Especialização esta, frise-se, sem muitas oportunidades de transmissão, para a necessária formação de novos profissionais.) Todas as gaitas Todeschini são numeradas. E trazem gravado na madeira, internamente, a data de fabricação.
Não tardou muito para que a fabricação da gaita se tornasse uma espécie de incômodo empresarial, pois o contexto de uma nova ordem econômica, com forte tendência para a automação de tarefas, já mostrava seu brilho intenso no horizonte matutino de um país emergente.
Em 1976, ao decidir parar em definitivo com a produção de gaitas, a direção da empresa negociou com alguns funcionários a manutenção de um serviço de assistência técnica. E transferiu para eles todo o estoque de peças prontas. O serviço funciona até hoje, nos fundos da residência de Danilo Arcari, em Bento Gonçalves mesmo, e tomou-se famoso no Brasil inteiro.
Danilo Arcari e Lourival Cosme, tem 56 anos de idade e tinham 40 anos de Acordeões Todeschini, quando a produção parou. lvo Bondan tem 59 de idade. Os três lideram a equipe de nove pessoas que assumiu a nobre missão de manter ligados os tubos da UTI das Rainhas do Fandango: Alba Fin (55), Zemiro Zallmmena (56), Deusines Maso (65), Auri Ranzzi (65), Elis Raquelli (70) e Biogio Vaccaro (73). Entre os nove, são 555 anos de idade, e mais de três séculos de experiência na gaita gaúcha!
lvo Bondan olha as fotos na Revista Gaúcha e relembra o incêndio como se ele tivesse acontecido ontem. Bondan comenta que os recursos de combate a sinistros na época não eram tantos como hoje em dia. Garante que tudo o que estava disponível foi tentado para conter o fogo, mas que nunca deixa de pensar que, se alguém tivesse pensado em isolar um corredor estratégico que existia entre duas alas dos prédios, talvez muita coisa fosse salva

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